UNO Novembro 2015

Uma associação estratégica para o clima

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Há 30 anos, Espanha e Portugal firmaram sua adesão à União Europeia. Olhando para trás, é evidente para aqueles que experimentaram estes emocionantes anos que nossa incorporação ao projeto europeu tem sido um instrumento de modernização, estabilidade e  de prosperidade para ambos os países. Apesar das dificuldades que atravessamos nos últimos anos, como consequência da pior crise econômica da nossa história recente, encontramos no seio da União Europeia uma garantia para um futuro melhor. Nunca o nosso continente, isto é, os países que fazem parte da União, haviam desfrutado de um maior período de paz, estabilidade e prosperidade. Isto não é fruto da casualidade. É fruto do esforço coletivo, baseado em solidariedade e em valores universais de liberdade, democracia, igualdade e Estado de Direito, com o objetivo de superar os egoísmos nacionais e assegurar a liberdade e prosperidade dos nossos cidadãos.

Em sua adesão à União Europeia, Espanha e Portugal também incorporaram consigo um pouco da América Latina, uma região que faz parte do nosso imaginário coletivo de maneira tão intensa e palpável que, às vezes, é difícil discernir exatamente onde acaba a Europa e onde começa a América. Por isso, a União Europeia e a América Latina têm procurado, ao longo dos últimos anos, estabelecer um marco estável de cooperação política, social e econômica que articulasse, em torno de valores universais dos quais falava a princípio, nossas relações. Este desejo materializou-se na Conferência do Rio, em 1999, na associação estratégica birregional entre a União Europeia e a América Latina e o Caribe. Desde então, as distâncias que nos separam através do oceano têm sido reduzidas enormemente, em benefício mútuo. Há inúmeros exemplos disto. Os vínculos comerciais entre ambas regiões duplicaram na última década. A União Europeia é o principal investidor na região, com uma quota de 34% do investimento  estrangeiro direto, enquanto 20% deste investimento na UE vem da América Latina e do Caribe. Assinamos numerosos acordos comerciais, tornando esta região em uma das mais integradas à União Europeia.

Temos uma responsabilidade histórica de dar respostas concretas agora

Além disso, ambas regiões compartilham a nossa preocupação com as questões globais. E, no mundo em que vivemos, enfrentamos grandes desafios comuns que só podemos combater se reunirmos nossos esforços. Devemos, portanto, aproveitar as oportunidades que nossas privilegiadas  relações nos oferecem para materializar a nossa vontade de dar resposta aos grandes desafios globais de maneira conjunta, sendo um dos mais prementes em termos ambientais e de desenvolvimento, na luta contra as mudanças climáticas. Temos, pois, uma responsabilidade histórica de dar respostas concretas agora. Neste contexto, a próxima Cúpula de Mudanças Climáticas, que será realizada em Paris, no final do ano, sob os auspícios das Nações Unidas, será uma oportunidade para demonstrar ao mundo que nossa parceria estratégica é uma associação para o futuro e uma oportunidade para promover de maneira conjunta um desenvolvimento sustentável e assegurar um elevado nível de vida para nossos cidadãos em forma de um compromisso firme, vinculativo, e fazer frente ao aquecimento global.

07Como um negociador da União Europeia para a Conferência do Clima de Paris (COP-21), quero que esta Conferência seja um marco de uma nova era de interdependência global. Que sirva para dar início a uma nova fase em que a defesa do interesse comum reúna os países do mundo em torno da causa nobre de deixar um legado melhor para as futuras gerações em todo o planeta. A União Europeia colocou sobre a mesa um compromisso sólido e inequívoco a este respeito. Em outubro de 2014, alcançamos um acordo europeu para reduzir nossas emissões de CO2 até 2030 em, pelo menos, 40% em relação aos níveis de 1990. Este acordo representa um claro exemplo da ambição e da seriedade do nosso compromisso climático. Além disso, acreditamos que este compromisso é compatível com o crescimento econômico e com a criação do emprego. Os dados demonstram. Apesar da crise econômica, nossa indústria tem conseguido reduzir suas emissões e manter-se competitiva, graças ao estabelecimento, há 10 anos, do mercado europeu de carbono, que incentiva o investimento em novas tecnologias mais eficientes. O progresso científico e tecnológico, além de uma nova oportunidade para as nossas economias, para as nossas empresas e para a criação de novos postos de trabalho, é a chave para o sucesso de nossa ação a favor do clima.

Importantes nações do mundo estão se movendo na direção certa. Todos os países do G7 tem posto objetivos de redução de emissões às claras, tal como foi acordado na última Conferência climática, realizada em Lima. A metade dos países membros do G20 apresentaram seus objetivos. No total, somos mais de 50 países que colocaram objetivos concretos de mitigação e adaptação sobre a mesa, incluindo o México, China, Estados Unidos, Rússia, Canadá e União Europeia. Juntos, representamos 60% das emissões globais. Embora seja um bom dado e isso demonstre que, cada vez mais, países estão levando a sério a sua responsabilidade, isso ainda não é suficiente. Então, quero encorajar as nações da América Latina que ainda não o fizeram a aderirem a este esforço, o quanto antes, cada um na medida de suas possibilidades. A União Europeia está disposta a estender a mão àqueles que precisam dela para fazer da luta contra as mudanças climáticas uma realidade. Ninguém deve faltar a esta responsabilidade global compartilhada já mencionada no princípio. Devemos todos contribuir para este esforço, uma vez que está em nossas mãos, especialmente na daqueles que têm responsabilidades públicas, deixar as gerações futuras um mundo melhor, mais justo e mais próspero.

A União Europeia está disposta a estender a mão àqueles que precisam dela para fazer da luta contra as mudanças climáticas uma realidade

A luta contra as mudanças climáticas tem muito a ver com os valores compartilhados dos quais falávamos no início. Não podemos e não devemos hipotecar o futuro dos nossos filhos, tornando-os ainda mais vulneráveis aos riscos da mudança climática. Este desafio global é maior do que a nossa ação separada pode abarcar. A União Europeia saberá estar à altura destas circunstâncias. Estou confiante de que o nosso compromisso servirá de exemplo para outras regiões do mundo, e também para a América Latina. Não devemos perder a oportunidade que Paris oferece a todas as regiões e nações do mundo. Vamos, na Cúpula de Paris, revigorar a cooperação internacional, alcançando um bom acordo sobre o clima, que seja vinculativo, com objetivos claros e progressos mensuráveis. Toda a humanidade estará nos assistindo e lembrará daqueles que ficaram à altura das circunstâncias.

Miguel Arias
Comissário Europeu para a Energia e Ação pelo Clima
É o Comissário Europeu para a Energia e Ação pelo Clima desde 1o de novembro de 2014. Graduado em Direito pela Universidade Complutense de Madri (1974), é Procurador do Estado. Em 1987, atuou como professor na Universidade de Cádiz e eleito membro do Parlamento da Andaluzia, em 1982. Em 1986, elegeu-se membro do Parlamento Europeu, onde permaneceu até 1999, encabeçando a comissão parlamentar da Agricultura e do Desenvolvimento Rural. Foi Ministro da Agricultura e Pesca do Governo da Espanha (2000-2004) e Ministro da Agricultura, Alimentação e Meio Ambiente (2011-2014), antes de ser eleito chefe da lista de seu partido para as eleições ao Parlamento Europeu de 2014 . [Espanha]

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