UNO Novembro 2015

A relação UE-CELAC: “Eppur si muove!”

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Aqueles que acreditam no enorme potencial da América Latina continuam a ver o copo que mede nossas relações políticas e econômicas meio cheio. Pode-se dizer que, nos últimos anos, nosso peso econômico e influência política diminuíram. Pode-se e deve-se reconhecer que outros países estão pisando forte em seus investimentos e em seus acordos comerciais, especialmente a China, mas não apenas ela. É inegável que a Aliança do Pacífico (Chile, Peru, Colômbia e México) está funcionando muito bem e abrindo, na Ásia, enormes expectativas para toda a região. Tampouco é discutível que os anos de crescimento econômico, a uma taxa média de 4% no conjunto da América Latina, terminaram, e que uma grave crise de preços dos produtos primários de exportação estão afetando severamente as finanças públicas de muitos dos principais países latino-americanos. Pode-se acrescentar a isso, inclusive, a grave deterioração da democracia venezuelana que ameaça a população desse país tão querido e importante.

Muitos acreditam que a América Latina continuará a crescer e continuará a ser um ótimo lugar para o investimento, de comércio e de modernização social

Eppur se muove, como disse Galileo. Muitos acreditam que a América Latina continuará a crescer e continuará a ser um ótimo lugar para o investimento, de comércio e de modernização social. Seus dados demográficos são encorajadores. As necessidades de investimento em sua infraestrutura física e tecnológica são enormes. O nível de escolaridade básica é notável na maioria dos países. Sua população tem uma vontade louvável de avançar e progredir. A classe média cresceu massivamente nos últimos anos. As margens de crescimento em bancarização, seguros, telecomunicações, serviços, transporte, portos, aeroportos, na matriz produtiva em geral, são muito amplas. As democracias foram consolidadas e um novo pacto entre a esquerda política e as empresas começa a emergir.

09A Cúpula UE-CELAC no início de Junho, realizada em Bruxelas, respondeu a este contexto e a uma dupla demanda. Por um lado, reforçar a Aliança Estratégica Birregional, para fazer juntos mais e melhores coisas no exigente mundo globalizado, a partir de uma visão bastante semelhante da democracia, do Estado de direito, dos direitos humanos e dos grandes desafios de governança: paz, mudanças climáticas, gestão financeira, objetivos de desenvolvimento pós-2015, movimentos migratórios, etc. Por outro lado, intensificar nossas respectivas áreas de comércio, diálogo político e cooperação. Ou seja, modernizar e atualizar os Acordos da UE com o México e com o Chile. Concluir as negociações do Acordo UE-Equador, que se junta ao já vigente Acordo com a Colômbia e Peru. Retomar as negociações com o Mercosul. Intensificar a cooperação com a América Central. E, finalmente, assinar um acordo abrangente com Cuba, que já está negociando desde abril de 2014.

A América Latina se move. Na direção certa com Cuba, o que, muito provavelmente, acabará reestabelecendo relações políticas plenas com EUA e abrirá a ilha ao intercâmbio comercial e ao investimento econômico, como um prelúdio para a abertura do espaço eletrônico (redes, televisão, telecomunicações, etc.) e, com ele, para a liberdade e a democracia. Uma lástima, a propósito, que o Governo da Espanha esteja tão ausente em um processo em que deveríamos ser, por muitas razões, os principais protagonistas. Move-se também no caminho da esperança, com dúvidas e retrocessos, o processo de paz na Colômbia. Se o presidente Santos e as FARC firmam a paz, esse país terá enormes sinergias de crescimento e progresso, por mais complexas e difíceis que sejam – e são muito – as consequências e condições deste cessar da violência. A América Latina move-se em direção à consolidação de suas democracias, à modernização de suas estruturas administrativas, ao desenvolvimento de estados mais fortes e sérios, com Fazendas mais eficazes e serviços públicos de educação, saúde e luta contra a exclusão mais robustos.

A Europa deve olhar para a América Latina, antes que os olhares americanos ao Pacífico nos deem as costas

Resta um amplo campo para continuar acentuando nossas relações. Como tive a oportunidade de dizer a todos os Chefes de Estado e de Governo na Cúpula UE-CELAC, em um discurso que me correspondia diante deles, em nome da Assembleia Parlamentar Euro-Latino-Americana (EuroLat), o próximo desafio das nossas relações está na intensificação de nossos intercâmbios sociais: estudantes, professores e pesquisadores, empresários, universidades, ONGs, devem unir o círculo cultural e histórico que forma a América Latina e Europa. A Europa deve olhar para a América Latina, lhes disse, antes que os olhares americanos ao Pacífico nos deem as costas. E agora, acrescento, a Espanha é a chave para o projeto de unir universidades, de conectar sociedades, de ir de mãos dadas pelo mundo, de ajudar a melhorar com nossas melhores práticas, para enriquecer-nos mutuamente, para fazer mais coisas juntos. Infelizmente, nos últimos anos perdemos o passo neste espaço vital que é a América Latina, dada a nossa estranha e fraca política internacional.

Ramón Jáuregui
Presidente da Fundação Euroamerica
Licenciado em Engenharia Técnica e Direito. Antigo secretário-geral do Partido Socialista Espanhol (PSOE) no País Basco e membro do Parlamento Basco, do Congresso dos Deputados de Espanha e do Parlamento Europeu. Foi vice-presidente do Governo Basco entre 1987 e 1991 e foi ministro da Presidência do Governo de Espanha entre 2010 e 2011. Foi presidente da Delegação Parlamentar UE-México junto do Parlamento Europeu e da Assembleia Parlamentar Eurolat. Desde 2019, é presidente da Fundação Euroamerica.

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