UNO Novembro 2014

As três alavancas da mudança na América Latina

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A América Latina está imersa em um positivo dinamismo social, econômico e político, que fica evidente a cada Cúpula Ibero-Americana. No entanto, apesar dos progressos dos últimos anos, uma ampla gama de problemas estruturais permanecem inalterados e representam, com incidência desigual, os problemas comuns dos 41 países da região e seus mais de 570 milhões de habitantes.

É certo que nos últimos anos houve avanços significativos na redução da pobreza, ao mesmo tempo em que cerca de 50 milhões de pessoas ingressaram na classe média, segundo a CEPAL e o PNUD. Mas a bonança econômica da última década não foi capaz de melhorar significativamente a educação e a modernizar a economia, senão aliviar a situação insustentável da pobreza e da injustiça social. Por isso os esforços têm sido insuficientes: uma proporção muito elevada de latino-americanos ainda segue em risco de ver fortemente afetado seu bem estar em caso de algum tipo de crise (econômica, desastres naturais ou outras).

“Seguem existindo altos níveis de exclusão social, especialmente entre as mulheres, os povos indígenas, os afrodescendentes e os jovens.

Além disso, enquanto quase 70 milhões de pessoas saíram da pobreza na última década, 12% da população ainda (outros 68 milhões) vive em condições de extrema pobreza, especialmente nas áreas rurais. E seguem existindo altos níveis de exclusão social, especialmente entre as mulheres, os povos indígenas, os afrodescendentes e os jovens. A América Latina é a segunda região em nível de desigualdade, depois da África subsaariana.

08Neste contexto socioeconômico, a educação é uma ferramenta fundamental para a mudança. Embora 93% das crianças terminem a educação primária, apenas 57% dos jovens (160 milhões entre 10 e 24 anos) conseguiram concluir o ensino secundário, de acordo com a UNESCO. Portanto, é crítico ampliar o acesso à educação secundária, revisando a formação de professores e estabelecendo novas linhas e especialidades para adaptar-se às demandas de um mercado globalizado, e tudo isso apoiando-se em novas tecnologias.

Por outro lado, a consolidação do progresso econômico da região passa pela construção de uma classe empreendedora e inovadora que desempenhe um papel crucial na transformação das sociedades através da criação de um crescimento econômico sustentável. Neste sentido, o Banco Mundial (1) aponta que a falta de inovação das empresas latino-americanas as obriga a crescer de forma mais lenta, porque estas introduzem novos produtos com menos frequência do que seus concorrentes em economias semelhantes. Criar um entorno favorável ao empreendedorismo e à inovação requer abordar desafios como a melhoria do capital humano, novamente através do acesso à educação secundária e da qualidade da educação em escolas de negócios (apenas 20, das 1.730 escolas de negócios latino-americanos têm reconhecimento internacional), da melhoria da infraestrutura como uma vantagem competitiva e de uma maior proteção legal da propriedade intelectual.

“Educação, a Inovação e a Cultura são as três alavancas fundamentais da mudança para o verdadeiro desenvolvimento humano da América Latina.

Por fim, o espanhol é a espinha dorsal da diversidade étnica (600 povos indígenas) e cultural (600 idiomas) da região, mas o fator cultural não deve concentrar-se exclusivamente na língua que é apenas um veículo, mas na criação de um espaço de integração comum. A cultura pode converter-se no fator mais influente de aproximação e integração ibero-americana, ajudando a superar a visão puramente economicista da relação entre nossos países, firmando a base de um futuro comum, centrado nas pessoas e na solidariedade. O aumento do uso das TICs na região (de 4 a 39 usuários da internet para cada 100 habitantes, desde 2000) e a construção de uma Agenda Digital Cultural para a Ibero-América pode promover o acesso à cultura das classes mais desfavorecidas, assim como o intercâmbio cultural entre a comunidade ibero-americana, consolidando o Espaço Cultural Ibero-Americano no mundo.

Portanto, a Educação, a Inovação e a Cultura são as três alavancas fundamentais da mudança para o verdadeiro desenvolvimento humano da América Latina. Com elas, a região fomentará oportunidades, reduzirá as desigualdades e sustentará seu desenvolvimento.

Espanha e Portugal, aproveitando a sua dupla condição de membros da comunidade ibero-americana e europeia, têm diante de si uma oportunidade para atuar como âncoras capazes de projetar a região em uma “nova centralidade” (2) e impedir que uma comunidade com tantos vínculos naturais com o Atlântico, siga desviando o olhar em direção ao Pacífico.

Gonzalo Sales Genovés
Responsável pelos Programas de Responsabilidade Social Corporativa da FERROVIAL
Bacharel em Direito e Mestre em Comércio Internacional, é responsável pelos programas de Responsabilidade Social Corporativa na companhia Ferrovial. Foi Diretor de Inovação Social na  Fundação Seres e da Área de Alianças Sociais, Inovação e Conhecimento na Fundação Empresa e Sociedade. No Terceiro Setor, foi responsável pela área de Marketing e Vendas da UNICEF e membro da Equipe de Gestão da Oxfam Intermón. É membro do Conselho Consultivo da Fundação Santos Toledano e TECHO, assim como membro corporativo do LONDON BENCHMARKING GROUP. Também atua como professor visitante de RSC em cursos de mestrado de universidades espanholas e latino-americanas.

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