UNO Dezembro 2016

Liderança cívica e corresponsabilidade social

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Atualmente, os cidadãos enfrentam grandes desafios para atenderem à complexa problemática social, econômica e política. Insegurança, delinquência, violência e corrupção cresceram ao abrigo da impunidade e, se não forem enfrentadas, podem pôr em risco a sobrevivência do Estado mexicano.

O que devemos fazer? Podemos, como cidadãos, incidir nas mudanças necessárias? Ainda que temas como inseguridade, corrupção, impunidade, desemprego e pobreza tenham estado há décadas no centro do discurso, políticas públicas pouco efetivas ou mal implementadas, por falta de vontade política e ausência de participação cidadã, limitaram e inibiram a obtenção de resultados positivos.

Como esporte nacional muitos mexicanos se manifestam através de redes sociais e conversas de café. Mas, quando paramos para pensar, como é que chegamos à situação que vivemos atualmente? Quantas vezes, em vez de nos queixarmos, propusemos soluções e nos organizamos para promover uma mudança?

De acordo com Anatomia da Corrupção, apenas em 2015 se registraram 33,5 milhões de delitos no México, dos quais unicamente 3,6 milhões foram denunciados. Destes, apenas 67,5%, equivalentes a 2,4 milhões, se incorporaram a uma averiguação prévia; com estas cifras, a percentagem de impunidade é de 92,8%. Segundo Transparência Internacional, em 2015 o México ficou em 95.º de 168 países, ou seja, considera-se um dos países mais corruptos.

arturo cervantes 5.1Diante deste cenário, a participação cidadã na construção dos problemas que afligem a sociedade é quase nula: 8 de cada 10 pessoas nunca participaram ou se organizaram para realizar atividades de beneficio comum e 50% continuam acreditando que os problemas da sociedade devem ser resolvidos pelo governo. A apatia, a passividade e a permissividade dos mexicanos durante muitos anos foram o caldo de cultivo no qual cresceram os principais problemas da atualidade.

Por falta de liderança e de sensibilidade por parte das autoridades dos três níveis de governo, para antepor o interesse público ao particular, pôs em evidência sua incapacidade para dar uma solução efetiva às prioridades nacionais. Pelo contrário, a sociedade demonstrou uma e outra vez sua capacidade de se organizar para fortalecer e legitimar políticas públicas que considera relevantes em sua vida cotidiana.

Surpreende, no entanto, a enorme tolerância que esta mesma sociedade teve diante da inseguridade, da violência e da corrupção. Quantos mortos, quantos roubos, quanta violência, quanta corrupção, quanta impunidade estamos dispostos a seguir suportando, seja por desídia, por apatia ou por medo? Quantos são necessários para nos organizarmos e fazermos uma frente comum contra aqueles que sim estão organizados para cometer delitos e crimes?

 

NÃO MAIS

Com o estabelecimento do estado de direito sendo um pré-requisito para se alcançar a governabilidade democrática e um México justo e próspero, pensamos em Mexicanos Contra a Corrupção e a Impunidade. Todavia, a condição indispensável para isso é desenvolver maior liderança cívica e maior corresponsabilidade da sociedade, em suma, sair da letargia em que estamos submersos há décadas para encararmos problemas sistêmicos que têm solução.

O caminho da inatividade, do desinteresse e da falta de compromisso para denunciar, propor e agir levou-nos à precária situação em que nos encontramos. As mudanças necessárias para se abaterem os problemas aos quais nos referimos não se darão com bons desejos ou através de esforços desarticulados. Está em tempo de formarmos uma sociedade empoderada, que assuma sua corresponsabilidade, exija contas a seus governos e rompa as barreiras do individualismo para trabalhar de maneira organizada pelo bem comum. A implementação do Sistema Nacional Anticorrupção no México é um dos primeiros passos, mas ainda falta muito.

 

Arturo Cervantes
Diretor-geral de mobilização social em Mexicanos Contra a Corrupção e a Impunidade
É diretor-geral de mobilização social em Mexicanos Contra a Corrupção e a Impunidade, A.C. Membro do Fórum Global de Prevenção de Violência, das Academias Nacionais de Ciência, Engenharia e Medicina dos Estados Unidos e membro da Aliança Global para Prevenção de Violência, da Organização Mundial da Saúde. Promotor do Decênio pela Segurança nas Estradas 2011-2020 das Nações Unidas. Médico cirurgião pela Universidade Nacional Autônoma do México. Mestre e doutor em saúde pública, com especialidades em epidemiologia, ecologia humana e demografia pela Universidade de Harvard. Professor catedrático da Faculdade de Ciências, Universidade Anáhuac México. [México].

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