UNO Maio 2016

Somos todos startups. A autêntica transformação: mitos e chaves

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Parece que dias antes da mítica noite em que Obama ganhou sua primeira eleição para a Casa Branca, um repórter se aproximou de Chris Hughes. O cofundador do Facebook e cérebro por trás do fenômeno de rede de Chicago (MyBo) tinha então 25 anos. A pergunta do repórter era simples, mas tinha incorporada uma poderosa carga de profundidade: “Por que no site do candidato foi colocado um grande botão com a chamada “Doe”, em vez do habitual “Vote?”. “Você pode votar na internet?” – indagou o nativo digital (ou millenial), para ele próprio responder. “Não, é claro. Você pode doar? Sim. Essa é a única razão.”

De tanto usá-lo, e antes de ter dominado todo o jogo, vamos usar o conceito de “transformação”. A verdade é que, a partir de nossa experiência ajudando companhias a alavancar as potencialidades da tecnologia em favor de seus planos e objetivos, sabemos que existem dois significados que às vezes confundem aqueles que a utilizam. Pode ser entendido como “fazer mudar, de alguma forma, algo ou alguém” ou “mudar ou transformar algo em outra coisa”. Chris não modificou a forma ou a aparência da campanha eleitoral de Obama, mudou profundamente a maneira pela qual uma equipe política pode estabelecer uma autêntica simbiose com milhares de comunidades de apoiantes e eleitores. Esse é o tipo de “transformação” que nos interessa, certo? É o que pode ajudar a construir uma vantagem adaptativa difícil de ser vencida por nossos concorrentes.

A estética, o “fazemos o mesmo, mas com uma pele diferente”, demonstrou que é inútil e também consome muitos recursos. Estamos todos cansados de maquiagem. Ao longo da história, todas as estruturas de poder foram construídas em torno do monopólio sobre a informação e o controle da comunicação. Alguns avanços tecnológicos têm corroído, pouco a pouco, essa realidade. Cada um deles têm proposto uma extraordinária revolução social. O livro foi a gênese das civilizações grega e romana (uma ideia para alguns poucos). A imprensa, na construção do mundo moderno (muitas ideias para muitos). A internet (todas as ideias para a maioria) também está gerando o mesmo efeito. Ela envolve muitos “terremotos” que estão ocorrendo e continuará impactando o mundo, ao longo de décadas e, provavelmente, séculos. Algumas organizações têm conseguido aproveitar essas revoluções em seu benefício. Outras têm perecido (e muitas nasceram com intuição de pegar a onda). A principal diferença é que algumas se deixaram ser “transformadas” e outras foram “transformadoras”. Nós acreditamos na segunda atitude, porque, afinal, é uma atitude que oferece mais garantias de sucesso.

Do termo “transformação digital”, geraram-se alguns mitos que necessitam de uma profunda reflexão, a fim de evitar falsas expectativas

Sob a eclosão do termo “transformação digital”, geraram-se alguns mitos que necessitam de profunda reflexão, a fim de evitar falsas expectativas e para que as organizações enfrentem essas mudanças de paradigma de forma estratégica, e não apenas como resultado de modismos. Estes são nossos cinco mitos sobre a transformação digital:

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  • A transformação digital obriga as companhias a reinventarem-se: não é verdade. As organizações devem gerar novos cenários de pensamento de uma maneira diferente e explorar novos territórios, fora da zona de conforto, mas nem por isso esquecer quais as bases e os fundamentos essenciais de seu negócio. Não devemos tentar ser algo que não somos. Sim, devemos questionar nossos pilares e suposições preconcebidas.
  • A transformação digital é uma questão de tecnologia: evidentemente, as empresas do futuro terão de tirar proveito, de maneira irrecusável, da tecnologia como uma fonte de vantagem competitiva, mas apenas por uma questão de tecnologia ou por ser uma empresa de tecnologia. A nova revolução digital e da indústria 4.0 tem vindo para influenciar qualquer modelo de negócio e qualquer setor empresarial ou social.
  • A transformação digital pode ser resolvida com bom posicionamento e uma identidade digital multicanal: o modelo de inovação que se abre diante do futuro vai muito além de uma simples gestão de presença em canais digitais e afeta aspectos fundamentais de nossa empresa, como os modelos de negócio, as pessoas, a experiência do cliente e os modelos organizacionais.
  • Posso resolver um processo de transformação digital com meus próprios meios e recursos internos: as empresas que não compreendem um novo modelo de talento e de distribuição do conhecimento podem fracassar em processos de transformação digital por não serem capazes de enfrentar as mudanças com a velocidade suficiente e a flexibilidade necessária para aproveitar as oportunidades externas, baseadas no talento ou nas relações com startups, de alto poder disruptivo no mercado.
  • A transformação digital é uma despesa que preciso incluir em meu orçamento: parece uma obviedade, mas é necessário enxergar a cultura da transformação digital como investimento, e não como despesa. Muitas organizações enfrentam essa aventura com a sensação de ter de destinar orçamentos específicos, especialmente de desenvolvimento, que não trazem benefícios ou retornos no curto prazo. A exigência de curto prazo nos processos de inovação digitais geralmente desvia, substancialmente, os objetivos iniciais. É preciso tirar a inovação da agenda do presente.

A velocidade da sociedade digital é vertiginosa. As organizações não podem enfrentar essas mudanças sem uma abordagem ao talento distribuído

Neste ponto do artigo, é certeza de que o leitor está se perguntando sobre as chaves para a transformação digital. Neste artigo também compartilhamos quais os quatro pontos que acreditamos ser a chave para que uma companhia possa se tornar transformadora:

  1. A CULTURA ORGANIZACIONAL: é, sem dúvida, o primeiro passo. Precisamos de organizações mais inovadoras, mais ágeis, mais flexíveis, com maior capacidade para aprender sobre o risco e o fracasso, e, acima de tudo, mais acostumadas a pensar fora de sua zona de conforto. É necessário influenciar a cultura da inovação e as competências digitais.
  2. AS METODOLOGIAS E OS MODELOS DE Organização: precisamos ser capazes de orientar nossas estruturas, nossos métodos e nossos modelos com metodologias e formas de trabalho que estão trazendo sucesso às melhores empresas da economia digital, que estão realmente sendo capazes de mudar as regras do jogo. Temos de introduzir em nossas agendas palavras como metodologia Agile, Lean Startup, Design Thinking, Scrum, Holocracy E novas maneiras de trabalhar, com base em “provas de conceito”, protótipos e mínimos produtos viáveis etc. Palavras muito familiares para os grandes inovadores da era digital.
  1. OS ECOSSISTEMAS ABERTOS DE TALENTO INTERNO/EXTERNO: a velocidade da sociedade digital é vertiginosa. As organizações não podem enfrentar essas mudanças sem uma abordagem ao talento distribuído, tanto externo como interno. É essencial o empoderamento dos colaboradores, fomentando modelos de “intraempreendedorismo”, já que cada funcionário é uma fonte e um motor da inovação, e a partir de onde as novas lideranças podem aparecer. Por outro lado, a solução e as oportunidades estão lá fora muitas vezes. Novas startups, empreendedores, criativos, inovadores, pessoas talentosas que podem ajudar nossa organização a ser muito melhor. É essencial aprender a se relacionar com os ecossistemas de talento e estar cientes de que somos todos startups e todos nós somos millenials.

A aventura e a arte de ser uma startup é um dos grandes desafios que se colocam para as grandes empresas hoje. A arte de ser rápidos, flexíveis, adaptáveis e inovadores. Repensar e criar o futuro é uma tarefa emocionante, e as próximas mudanças que vêm por aí nos convidam a sonhar.

Adolfo Corujo
Sócio e Diretor-geral para a Iberia da LLORENTE & CUENCA
Sócio e diretor-geral para a Espanha e Portugal da LLORENTE & CUENCA. É especialista em gestão da reputação na Internet. Em seus vinte anos de trajetória profissional, tem colaborado na concepção e implementação de projetos tanto para a construção como para a defesa ou promoção da identidade digital de diferentes multinacionais na Espanha e na América Latina. No âmbito acadêmico, colabora com a Universidad Complutense de Madri (UCM) e a UC3, entre outras universidades e escolas de negócios, dando aulas e palestras sobre Social Business, Marca Pessoal e Reputação Online. Participa das redes a partir do seu site www.adolfocorujo.com e de conferências informativas e científicas internacionais, entre as quais destacam-se o projeto de investigação europeu 'LiMoSINe'. Licenciado em Publicidade e Relações Públicas pela UCM e Executive-MBA pela ESADE. [Espanha]

Sergio Cortés
Sócio da LLORENTE & CUENCA, fundador e presidente da
É sócio da LLORENTE & CUENCA, fundador e presidente da CINK. Empreendedor referência no segmento de empresas de tecnologia, é especialista em inovação digital, prototipagem e transformação digital. Também desenvolve e gerencia projetos de alto impacto estratégico para as organizações através da assistência técnica e execução das mesmas no campo da inovação e comunicação, aproximando grandes empresas para o modelo de inovação aplicado por startups líderes de mercado. Atualmente, também colabora como consultor em diversas organizações, incluindo entidades bancárias, governos e projetos solidários. É engenheiro industrial, com estudos na ESADE. Além disso, concluiu Executive Program for Growing Companies na Universidade de Stanford, na Califórnia, e é pós-graduado pelo Entrepreneurship Center do MIT (Massachussets).

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