UNO Agosto 2014

O serviço externo espanhol aposta na diplomacia digital

03_2A maior transparência e proximidade com os cidadãos que é a espera hoje em dia dos governos, e consequência de uma maior conscientização dos princípios democráticos nas nossas sociedades, colocam em destaque a importância do papel da comunicação. A revolução tecnológica que ocorreu neste âmbito com o surgimento da internet e das novas ferramentas digitais, particularmente as redes sociais, está determinando a inevitável renovação dos padrões de funcionamento da Administração, buscando uma maior eficiência na prestação do serviço público e uma melhoria da sua reputação. Um fenômeno semelhante está acontecendo na diplomacia.

A internet e as TIC transformaram os indivíduos em atores no que diz respeito às relações internacionais, na medida em que suas opiniões são levadas em conta e podem fazer com que cheguem diretamente aos governantes, líderes de opinião, ministérios de relações exteriores, embaixadas e consulados. A informação unidirecional tradicional dos governos está se abrindo para a comunicação entendida como função bidirecional, que inclui aspectos como: capacidade de escuta, disponibilidade para o diálogo e promoção do conhecimento mútuo. A diplomacia que incorpora esta nova forma de se relacionar com a cidadania e a coloca em prática por meio do uso das novas ferramentas digitais é conhecida como “diplomacia na rede” ou “diplomacia digital”.

O MAEC apostou na modernização e na incorporação das novas tecnologias para o exercício da sua função diplomática.

O que o “Ministerio de Asuntos Exteriores y de Cooperación” (MAEC) e os profissionais da diplomacia da Espanha estão fazendo para transformar sua diplomacia, que poderia ser chamada de “tradicional” em uma nova diplomacia?

O MAEC apostou na modernização e na incorporação das novas tecnologias para o exercício de sua função diplomática. Nos últimos anos, renovaram os sites do Ministério e de suas representações no exterior e foram abertas contas em redes sociais, tanto na sede central como em numerosas embaixadas e consulados, o que permite estabelecer um contato direto com a sociedade civil nos países em que temos representação diplomática, bem como com empresas espanholas e membros da colônia espanhola. Muitos diplomatas têm blogs nos quais, de uma forma agradável, comentam aspectos relacionados com o trabalho que realizam, bem como suas experiências pessoais nos seus respectivos destinos.

Por outro lado, o Ministério está fazendo um grande esforço para implementar a cultura digital em seu Serviço Externo. Trata-se de um processo gradual que começou há dois anos com o lançamento de um exercício chamado “Plano de Comunicação das Representações da Espanha no Exterior”, do qual participam todas as nossas missões diplomáticas, representações permanentes e escritórios consulares, e seus principais objetivos são: modernizar a função da comunicação, definir as melhores práticas e compartilhá-las na rede; dar cursos de formação sobre diplomacia digital para membros do Serviço Externo e fazer uma reflexão profunda e conjunta com todos os diplomatas sobre a melhor forma de migrar para um novo modelo de diplomacia digital, que se adapte às circunstâncias particulares do nosso país e à nossa administração, tais como as necessidades, meios, recursos, procedimentos e valores da sociedade espanhola.

Seria de grande ajuda que, na estratégia de política externa, seja reconhecida a importância crescente da comunicação e da diplomacia digital como instrumentos de projeção internacional do nosso país.

Como resultado dessa reflexão, está sendo identificada uma série de desafios que, de forma gradual, porém determinada, deverão ser colocados em prática ao longo dos próximos meses e anos, a partir da Administração e, especificamente, do MAEC, para alcançarmos o nosso objetivo de manter e reforçar a presença e influência do nosso país no novo contexto internacional. Como aspectos mais importantes, foram identificados os seguintes:

 

  • Necessidade de iden03tificar novos mecanismos de coordenação, procedimentos de trabalho e protocolos de atuação adaptados à incorporação das novas ferramentas digitais ao trabalho do diplomata.
  • Fornecer recursos humanos suficientes às unidades responsáveis pela gestão das ferramentas digitais.
  • Devido ao atual momento de dificuldade econômica pelo qual passamos, torna-se especialmente necessário tirar o maior proveito possível dos recursos disponíveis, porém a nova diplomacia na era digital requer uma alocação crescente de fundos para a formação contínua dos membros do seu serviço externo, incluindo novas habilidades digitais e renovação tecnológica, que tornam possível sua plena aplicação no MAEC e nas nossas representações no exterior no que diz respeito ao uso das novas ferramentas digitais, preservando a segurança das comunicações.
  • Levando em conta que as redes sociais são, essencialmente, um motor de inovação e mudança, também torna-se necessário implementar no serviço externo um sistema eficaz de gestão do conhecimento e do talento.
  • Identificar mecanismos de parceria com consultorias de comunicação, com think tanks,  universidades e com atores da diplomacia pública e manter contatos com os atores internacionais mais relevantes no que diz respeito à diplomacia digital para identificar as melhores práticas que podem se adaptar ao nosso Serviço Externo.
  • Finalmente, seria de grande ajuda, para alcançar os objetivos acima enunciados, que, na estratégia de política externa que deve ser aprovada pelo governo no âmbito da lei “Acción Exterior y del Servicio Exterior”, seja reconhecida, expressamente, a crescente importância da comunicação e da diplomacia digital como instrumentos para a projeção internacional do nosso país.

Nós, os diplomatas espanhóis, estamos cientes das mudanças que estão ocorrendo no exercício da diplomacia. Também sabemos que, embora as funções básicas do trabalho de um diplomata deem representar, informar e proteger se mantenham, a forma de realizá-las mudou. Não podemos desperdiçar os novos recursos e as possibilidades oferecidas pelas novas tecnologias. Para isso, é essencial promover as mudanças necessárias no nosso Ministério e nas nossas embaixadas e consulados. Finalmente, temos que buscar uma proximidade com o cidadão, garantindo, dessa forma, o melhor cumprimento da nossa função de serviço público e aproveitando a riqueza de ideias e talentos que circulam pela rede.

Alberto Antón
Embaixador
Embaixador em Missão Especial para a Diplomacia Digital. Anteriormente, foi embaixador da Espanha no Cazaquistão, Quirguistão e Tajiquistão. Entre outros cargos que ocupou, destacam-se os de Subdiretor Geral de Assuntos Jurídicos e Consulares; Ministro Conselheiro da Embaixada da Espanha em Tunes; Conselheiro Técnico na Secretaria de Estado para a União Europeia; Coordenador na Representação Permanente da Espanha para a União Europeia; Conselheiro na Embaixada da Espanha no Marrocos e Secretário da Embaixada nas Missões Diplomáticas da Espanha no México e na Tanzânia.

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