UNO Dezembro 2013

Medição do impacto social com o método SROI

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Foi no começo deste século XXI quando um grupo de economistas começou de ambos os lados do Atlântico a tentar reorientar um dos paradigmas empresariais que eram considerados imutáveis até o momento. Segundo eles, o valor empresarial é constituído apenas pelo valor econômico-financeiro, e o objetivo único da empresa é a obtenção de lucro. No entanto, os economistas mencionados começaram a expor que a empresa não só cria (ou destrói) valor econômico-financeiro, mas, ao não realizar sua atividade em compartimentos e se relacionar, portanto, com o mundo exterior, cria (ou destrói) valor social e/ou valor meio ambiental. Assim, a criação de valor social se dá quando a empresa interage com diversos grupos de interesse tais como empregados, clientes, o Estado ou as comunidades de moradores dos lugares onde opera. E, mais intuitivo, o valor meio ambiental se reflete no cuidado que a empresa dedica quando faz uso dos recursos naturais.

O valor econômico-financeiro é medido através da contabilidade financeira, que é um jogo de regras mais ou menos aceitas por todos os agentes econômicos, e que é usado há vários séculos. Assim podemos dizer que uma empresa determinada tem um valor de “x milhares de euros”, ou que o valor de seus investimentos alcança um volume de a ou z.

O método SROI pode ser de grande ajuda na hora de medir a contribuição que um determinado projeto faz à sociedade

Apesar de a abordagem em abstrato deste contraparadigma parecer simples de formular, não o é na hora de colocar no papel que valor damos ao social e ao meio ambiental. Vimos que as regras de avaliação econômico-financeira estão mais ou menos afiladas. Mas não funciona assim no âmbito do valor social e o meio ambiental (neste artigo só nos referiremos ao valor social). Pode parecer mais ou menos óbvio que um projeto empresarial cria valor social em forma de, por exemplo, criação de postos de trabalho em uma zona com alto índice de desemprego. Mas, para a contabilização deste valor, não existe uma caixa de ferramentas como a que proporciona a contabilidade financeira para medir o valor econômico-financeiro.

O cuidado dos aspectos sociais já é uma parte estratégica de qualquer empresa que convive com o objetivo da obtenção de lucro

Os economistas mencionados ao começo de nosso artigo, liderados primeiro por Jed Emerson, nos Estados Unidos, e em seguida por Jeremy Nicholls, no Reino Unido, projetaram um método que poderia aproximar o analista do conceito de valor social. O método se baseia na Análise Custo-Benefício, apesar de se distinguir deste por não só ser utilizado por agentes externos ao projeto que querem saber se um determinado investimento no projeto é viável ou não, mas além disso é uma ferramenta para que tanto gerentes do projeto como investidores tomem decisões baseadas na otimização dos impactos sociais e ambientais do projeto. Este método chamado SROI, acrônimo do inglês Social Return On Investment ou Retorno Social sobre o Investimento, descreve como um projeto empresarial cria valor social e reflete o resultado em um ratio que põe em relação os benefícios sociais criados a respeito do investimento necessário para conseguir estes. Assim diremos que um projeto empresarial tem um ratio SROI de 3:1 se por cada 1 euro investido em tal projeto são gerados 3 de lucro social. Entre as muitas vantagens deste método, se destaca superar a medição do puramente qualitativo que muitos métodos de avaliação de projetos sociais preconizam para adentrar totalmente nos aspectos quantitativos.

06A coluna vertebral de uma análise SROI é a análise dos grupos de interesse (em inglês, stakeholders). A pergunta que deveremos fazer para elaborar um estudo destas características é: como mudaram as condições vitais de nossos grupos de interesse como consequência de nossa atividade?

O método está sendo aplicado com sucesso há vários anos em países como Reino Unido, Estados Unidos, Holanda e Austrália. Em nosso país há exemplos de uso tanto em empresas convencionais como em empresas sociais ou em prestação de serviços estatais.

O método SROI pode ser de grande ajuda na hora de medir a contribuição que um determinado projeto faz à sociedade. Especialmente pode ser de grande relevância nestes momentos nos quais a provisão de muitos serviços sociais por parte do Estado está, quando menos, sendo revisada, devido às dificuldades de financiamento existentes nos mercados financeiros. Considere a relevância que poderia ter poder descrever a criação de valor social para uma empresa que se apresentasse a uma licitação pública para a contratação de um serviço determinado. Ou a vantagem competitiva que teria um projeto ao se candidatar para conseguir financiamento se for demonstrado o valor de uma determinada ação social.

O método não está isento de limitações, como é o caso, por exemplo, da avaliação de intangíveis. Mas isso não deve dissuadir a empresa em seu esforço para superar o velho paradigma e se adaptar à nova realidade, onde o cuidado dos aspectos sociais já é uma parte estratégica de qualquer empresa que convive com o objetivo da obtenção de lucro.

Hugo Narrillos
Diretor de Tesouraria e Liquidez da Bankia
Diretor de Tesouraria e Liquidez da Bankia e Coordenador na Espanha de “The SROI Network International”. Embora sua experiência profissional seja nos Bancos de Investimento, onde trabalhou em várias instituições financeiras em Londres, Bruxelas, Valência e Madri, se destacou em diversos meios defendendo a necessidade de reconsiderar como deve se medir o valor empresarial. É autor do livro Economía Social. Valoración y medición de la inversión social (método SROI) e de vários artigos sobre a medição do valor social empresarial. É professor de Finanças na Universidade Jaime I de Castellón. Doutor em Ciências Econômicas pela Universidade Complutense de Madri e graduado pela École Supérieure de Commerce de Montpellier.

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