UNO Dezembro 2013

Bem mais lá do crescimento econômico: as pessoas

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CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

Na América Latina, vários economistas nos mostram um caminho encorajador para os próximos anos, adornado de números e crescimentos econômicos deslumbrantes. Nesse futuro promissor, os países emergentes latino-americanos e do Caribe são os que melhor aparecem no quadro das grandes perspectivas de crescimento. No entanto, o otimismo que reputados economistas projetam esconde possíveis confusões que convém advertir para não sucumbir aos cantos da sereia.

Quando os economistas nos falam do aumento anual do PIB, das receitas ou dos empregos, esses indicadores não necessariamente contribuem para o crescimento econômico, no qual interferem outros tantos ingredientes como a estabilidade econômica, a dinâmica entre os diversos setores ou o marco institucional e do governo de nossos países. Convém levar em conta que o crescimento não necessariamente ajuda para um desenvolvimento econômico. De fato, os países emergentes corremos o risco de nos integrarmos aos sistemas produtivos mundiais e alcançarmos altos índices de crescimento econômico e, contraditoriamente, continuarmos contando com sistemas educacionais e de saúde muito deficientes, com enormes desigualdades e inclusive com amplas camadas de população em situação de pobreza.

Uma coisa é crescimento, outra é desenvolvimento econômico e, outra muito diferente, mas a mais interessante para a promoção dos “novos cidadãos” que estamos defendendo nesta edição de UNO, o desenvolvimento humano.

Não é algo novo. Há mais de uma década, vários prêmios Nobel de Economia como Amartya Sen ou Joseph Stiglitz lembraram que o desenvolvimento dos países não se reflete nos dados que se desprendem das análises econômicas, mas em como se traduzem em oportunidades reais para que os cidadãos possam conseguir a vida que desejam. Portanto, para receitas ou emprego, é preciso acrescentar as oportunidades educativas, o atendimento médico, a cobertura de necessidades básicas como água, alimentação, moradia, salubridade, etc, ou fatores como as liberdades políticas e civis.

Uma coisa é crescimento, outra desenvolvimento econômico e outra muito distinta, mas a mais interessante para a promoção dos “novos cidadãos”, é o desenvolvimento humano

O PAPEL DAS EMPRESAS NO DESENVOLVIMENTO HUMANO

E, neste contexto, qual é a contribuição das empresas para a realização do desenvolvimento humano? Em muitos de nossos países emergentes latino-americanos, contamos com estados frágeis, com déficits de institucionalidade, onde o limite entre a esfera do estado e do mercado se torna difícil de calcular, já que os mercados se transformaram em prestadores de serviços básicos que estavam administrados pelo Estado.

Em síntese, as empresas na América Latina e no Caribe devem superar a divisão radical entre os âmbitos político-público e econômico-privado. As empresas fazem um papel de “cidadania corporativa” que vai muito além de buscar cooperações estratégicas que apresentem lucros econômicos e sociais nas áreas onde operam, mas assumem um papel ativo em melhorar a qualidade de vida das pessoas.

DESENVOLVIMENTO HUMANO NA AMÉRICA LATINA E SUAS NAÇÕES EMERGENTES

04As Nações Unidas, através do PNUD, elaboram o Relatório de Desenvolvimento Humano, que é hoje a referência de caráter global no tema. Em seu último lançamento, intitulado “A ascensão do sul: Progresso humano em um mundo diverso”, se destaca como no panorama mundial o desenvolvimento do sul não tem precedentes. Os indicadores que evidenciam as transformações econômicas, demográficas e políticas põem os países do sul como China, Índia ou Brasil nas primeiras posições dos principais rankings do planeta. Os especialistas argumentam que nunca na história as condições de vida e as perspectivas de futuro de tantas pessoas tinham mudado de maneira tão substancial.

Em nossa região, segundo aparece no mesmo estudo, uma de cada dez pessoas da crescente classe média mundial viverão na América Latina e no Caribe nos próximos anos. Desde o ano 2000, a região teve um avanço acima do resto do mundo em matéria de educação, evolução das receitas e saúde. Os níveis latino-americanos estão acima da média mundial em desenvolvimento humano (0,741 sobre 0,694, em uma escala do 0 a 1).

Desde o ano 2000, América Latina e Caribe tiveram um avanço acima do resto do mundo em matéria de educação, evolução das receitas, saúde e desenvolvimento humano

Mas não percamos de vista, como aponta o mesmo estudo, que “poucos países puderam sustentar um rápido crescimento sem que os estados realizassem enormes investimentos públicos, não só em infraestrutura, mas também em saúde e educação”.

Apesar das conquistas da região na última década, ainda há muito por fazer. Só por meio de envolvimento de instituições públicas e privadas, um papel mais ativo das empresas e o compromisso de todos se poderá conseguir uma sociedade com melhores níveis de desenvolvimento econômico e humano na região latino-americana e no Caribe.

Carlos Martí
Professor e Diretor Acadêmico de Barna Business School
Professor e Diretor Acadêmico de Barna Business School (República Dominicana). Anteriormente, atuou durante nove anos como pesquisador em diferentes departamentos e cátedras da IESE Business School e como professor Associado da Universidade de Navarra. Doutor em Ciências da Informação pela Universidade Complutense de Madri, mestre pela Clark University e graduado em jornalismo pela Universidade de Navarra. Como assessor colaborou com consultorias de Recursos Humanos, como Madri Consulting Group, e foi membro-fundador da Digital Operators Group.

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