UNO Agosto 2013

De Madrid ao céu olímpico

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No próximo 7 de Setembro, Madrid e toda a Espanha aguardam com grande expectativa a reunião do Comitê Olímpico Internacional, em Buenos Aires. A Argentina, logicamente, será testemunha da Assembleia do COI, na qual será definido o nome do anfitrião dos Jogos Olímpicos de 2020.

Madrid, única grande capital da Europa que não realizou Jogos, aposta tudo em uma única carta. Ou realmente não, já que é a terceira vez consecutiva a ser lançada candidata olímpica. Nas outras duas ocasiões, a capital da Espanha se mostrou ao mundo como uma cidade moderna, bem sucedida no esporte e com uma rede de comunicações e de hotéis incomparável em todo o mundo. E isso, que é verdade, não foi o suficiente para vencer. O exigente comitê avaliador, nas ditas votações, preferiu a sobriedade e o respaldo econômico da “city” londinense em sua Assembleia realizada em Cingapura: e, quatro anos atrás, em Copenhague, a pujança de uma economia ascendente como a brasileira. Penso que ambas ocasiões, o Comitê Olímpico não estava errado. Londres, como demonstrou meses atrás, não só foi um grande êxito organizativo, mas também, agora com a crise econômica mundial, soube e pôde fazer um evento rentável. A primeira vez em muitos anos que os Jogos Olímpicos não se transformava em buraco econômico após a saída dos atletas. Com o Rio tudo está por ser visto dentro de três anos, embora pareça que o bom trabalho e a alegria do povo o convertam em um sucesso. A verdade é que o Brasil e o continente sul-americano já o mereciam. O Brasil é hoje uma potência que todos observam. Possui indicadores econômicos invejáveis e tornou-se um modelo para outras economias emergentes. Um evento como os Jogos Olímpicos e, obviamente, a Copa do Mundo do próximo ano, são um prêmio merecido à gestão e às coisas bem feitas.

O voto latino-americano será fundamental na decisão

Desta vez as coisas parecem muito diferentes para Madrid 2020. É uma candidatura mais madura. Aprendeu com seus erros, melhorou significativamente a proposta integral (muito à medida do COI) e, especialmente não terá que lutar em um duelo com nenhuma cidade da América Latina, como aconteceu há quatro anos, contra o Rio de Janeiro. Seus rivais: Istambul e Tóquio não parecem candidaturas particularmente fortes e, é claro, não têm a maturidade ou a experiência de ter perdido duas finais por muito pouco. O voto latino-americano será fundamental na decisão.

06A partir de um diário de identidade colombiana, mas de coração espanhol como o Marca, poderia perder tempo tentando justificar porque peço o voto para Madrid, que é também, aliás, a cidade que me viu nascer. Não vou malgastar mais linhas com isto. O fato é que Madrid merece. A cidade vem trabalhando neste projeto há mais de 15 anos e sabe que esta é sua última chance. Conheci ao longo destes anos dezenas de profissionais, atletas e voluntários que apostaram tudo para que Madrid cumpra o seu sonho olímpico. Em termos gerais, foram muitos bem feitas as coisas e a luz no final da estrada está muito próxima.

Madrid parte como favorita e isso nem sempre é bom pelas alianças entre os que se sabem menos preferidos. A Turquia, e mais concretamente Istambul, está passando por semanas muito conturbadas quanto à violência nas ruas. O COI é inimigo de escândalos (tem os seus próprios) e as terríveis manifestações na cidade nas últimas semanas, fizeram o país perder muitos pontos a favor. Tudo aponta para a direção de que o fator surpresa está sendo desativado a partir das entranhas do próprio Império Otomano. Cada dia são mais fortes as vozes descontentes com a situação política na Turquia e seu regime de liberdades. Mas isso não é tudo para não vencer, como foi demonstrado pela China, que não é exatamente o campeão da liberdade e Pequim tomou os jogos (bem sucedidos, por sinal) em 2008.

Conheci ao longo estes anos dezenas de profissionais, atletas e voluntários que apostaram tudo para que Madrid cumpra o seu sonho olímpico

Um mês atrás, em razão do lançamento do Marca na Colômbia, tive o privilégio de compartilhar dois dias com Alejandro Blanco, presidente do Comitê Olímpico Espanhol, que, além de promover a candidatura de Madrid, foi muito claro em seu compromisso com a América Latina e recordou Cali, que sediará os Jogos Mundiais. Ou Buenos Aires e Medellin, que buscam sorte igual a de Madrid, com os Jogos da Juventude de 2018. Sua mensagem foi contundente, a ponte entre a América Latina e Espanha, sempre histórica, aparente em numerosas ocasiões, está e deveria estar mais aberta do que nunca. Cultural e economicamente, em ambos os lados do Atlântico, há muito caminho a se percorrer juntos.

O fato é que quando me despedi de Blanco no aeroporto El Dorado, em Bogotá, morto de curiosidade, perguntei-lhe diretamente se Madrid ganharia no dia 7 de setembro. Ele, como bom gallego, não me deu uma resposta clara, mas fez um gesto sorridente que me fez feliz. Que assim seja, como disse, Madrid e seu povo merecem.

Marcial Muñoz
Diretor do jornal Marca Colômbia
Jornalista e empresário espanhol que reside na Colômbia há cinco anos. Atualmente, é diretor do jornal Marca Colômbia –primeira franquia do diário espanhol fora da Espanha– e gerente da empresa de consultoria Milagro Andino, consultoria que assessora a empresas espanholas interessadas em investir no país. Construiu sua carreira em diferentes meios de comunicação –entre eles o Publimetro, onde foi diretor-fundador– e empresas espanholas e latino-americanas. É graduado em Ciências da Informação pela Universidad Complutense de Madrid, com MBA Executivo pela Universidade de Madrid e Mestrado em Gestão Empresarial pelo Fundo Social Europeu.

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