UNO Novembro 2015

América Latina, Espanha e Europa

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“AEspanha é uma nação americana”, disse o então Príncipe de Astúrias, Felipe VI, em um discurso na Universidade de Harvard. A realidade americana não pode ser entendida sem a presença espanhola, e a identidade espanhola não pode ser entendida sem sua bagagem ibero-americana. Essa relação historicamente estratégica configura um ativo extraordinariamente importante para a Espanha e para todos os países da Comunidade Ibero-Americana de Nações.

É verdade que as relações comerciais da Espanha e América Latina são menos importantes do que comumente se acredita, e logo menos do que deveriam ser. No período de 1995 a 2013, as importações representaram entre 3,5% e 7,8% do total das importações espanholas, dependendo do ano. As exportações, por sua vez, moveram-se neste período entre 4% e 6,4%. Em claro contraste, os investimentos espanhóis na América Latina são extraordinariamente importantes e representam quase 30% de nossos investimentos no exterior, sendo a Espanha o segundo maior investidor na região, perdendo apenas para os EUA.

No entanto, a Espanha não pode limitar as suas relações com a Ibero América ao âmbito regional. Hoje, mais do que nunca, a Espanha deve oferecer a sua vantagem competitiva e valor agregado como membro da União Europeia e reforçar a sua posição como um parceiro confiável ao conjunto de nações latino-americanas.

Por outro lado, um dos principais atores na cena internacional como é a UE não pode voltar as costas a uma região de importância econômica e política como a Comunidade Ibero-Americana. Esta região é um dos principais players no cenário internacional, tanto por seu peso no PIB mundial, sua população, sua participação no comércio mundial ou o seu peso em importantes organismos multilaterais.

A Espanha deve oferecer a sua vantagem competitiva e valor agregado como membro da União Europeia e reforçar a sua posição como um parceiro confiável ao conjunto de nações latino-americanas.

Durante muito tempo, as relações entre a UE e a América Latina não tinham ocupado o posto que realmente merecem. Na realidade, a atenção na América Latina e o início de um processo de crescente aproximação estão intimamente ligados à incorporação da Espanha – e também de Portugal – ao processo de integração europeu. O duplo caráter da Espanha, de país europeu e ibero-americano, serviu para facilitar o entendimento entre a Europa e a América Latina, e foi, sem dúvida, um fator determinante para a aproximação das duas regiões. O impulso das relações entre a União Europeia e a América Latina tem sido sempre, desde o momento de nossa adesão ao processo de integração europeu, um objetivo essencial da nossa política externa.

03Este processo de aproximação foi acelerado nos últimos anos, registrando grandes avanços. Sem pretender ser exaustivo, podem-se citar alguns dados que atestam este processo: a assinatura do Acordo de Comércio Multipartido com o Peru e a Colômbia, a assinatura do Acordo de Associação com a América Central, o processo que deverá conduzir à atualização do Acordo Global com o México e do Acordo de Associação com o Chile, para citar alguns dos processos que este governo tem ajudado a impulsionar. Antes do final de 2015, os cidadãos colombianos e peruanos que viajam para a Europa poderão fazê-lo sem visto, graças a uma iniciativa apresentada pelo primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy.

Esta aproximação tem sido um claro reflexo do avanço das relações comerciais. Desta forma, a União Europeia já é o segundo maior parceiro comercial da América Latina e do Caribe. Ao longo da última década, o comércio birregional de bens mais do que duplicou, atingindo 202 bilhões de euros. Entre 2004 e 2014, as importações de bens procedentes da América Latina cresceram 64,3% e as exportações para a América Latina, aumentaram 124%. Do mesmo modo, os investimentos da UE na América Latina têm crescido significativamente nos últimos anos e representaram, em 2014, 43% do investimento estrangeiro direto nos países CELAC.

O impulso das relações entre a União Europeia e a América Latina tem sido sempre, desde o momento de nossa adesão ao processo de integração europeu, um objetivo essencial da nossa política externa.

Indubitavelmente, os trabalhos que estão sendo realizados dentro do quadro institucional não são alheios a este processo e têm um impacto positivo no desenvolvimento econômico da região. Ao abrir o mercado à União Europeia às exportações latino-americanas e promover o investimento mediante o estabelecimento de marco de segurança jurídica, a União Europeia está contribuindo de maneira significativa para o processo de diversificação e transformação econômica que a América Latina vive hoje.

Em suma, penso que temos de estar satisfeitos porque produzimos importantes avanços nas relações birregionais nos últimos anos, o que nos permite encarar com otimismo e confiança um futuro que exige relações privilegiadas entre a América e a Europa.

José Manuel García-Margallo
Ministro de Assuntos Exteriores e de Cooperação da Espanha
É ministro de Assuntos Exteriores e de Cooperação da Espanha. Bacharel em Direito (1965); Master of Laws (Harvard, 1972); Doutor em Direito pela Universidade Miguel Hernandez (Alicante, 2002). Inspetor de Finanças (1968). Foi diretor-geral de Desenvolvimento Comunitário do Ministério da Cultura e deputado no Congresso (1977-1979). Atuou ainda como presidente da Comissão de Petições do Congresso dos Deputados (1979-1982) e, mais tarde, porta-voz de Economia e Fazenda (1986-1994) e deputado no Parlamento Europeu (desde 1994). Ocupou o cargo de vice-presidente da Subcomissão de Assuntos Monetários (1999-2004) e de vice-presidente da Comissão de Assuntos Econômicos e Monetários (1999-2004). Foi condecorado com a Grã-Cruz do Mérito Civil (1982) e com a Ordem do Mérito Constitucional (1983). [Espanha]

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