UNO Agosto 2013

América Latina, um exemplo para a Europa

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Talvez muitos já tenham esquecido, mas nos anos 80 foi registrada uma severa crise financeira que atingiu a maioria dos grandes países da América Latina, principalmente o México, devido ao aumento da dívida externa; o desperdício das rendas petrolíferas e elevados déficits públicos; pela irresponsabilidade dos governos de gastar muito, sem arrecadar mais impostos e sem cuidar a fonte de financiamento dos programas sociais, ajudados pelo menos irresponsáveis bancos internacionais que nos emprestavam dinheiro sem uma adequada análise de risco.

Soa familiar? Isso é exatamente o que está passando hoje em dia com os países europeus, que alguns chamam com desdém de Pigs (Portugal, Itália, Grécia e Espanha, por suas siglas em inglês).

Apesar da União Europeia, do Euro e dos limites de endividamento, os países europeus cometeram uma grande irresponsabilidade ao lidar com suas fianças públicas e, hoje, o problema principal da Europa é sua excessiva dívida, como foi na América Latina há exatamente 30 anos, com o agravante de que não somente há um excessivo endividamento do setor público como também do privado, como aconteceu no México na crise de 1982, que teve como consequência a nacionalização dos serviços bancários que duraram 10 anos; em um absurdo e ineficiente controle de mudanças e uma gravíssima perda de confiança que atingiu toda a Região.

Nos últimos 30 anos, a América Latina assumiu a liderança a nível mundial. Um exemplo foi a realização do G20no México, que pela primeira vez tem uma sede latino-americana

Hoje os papéis parecem ter sido invertidos. Depois de duas décadas de ter lutado contra a má imagem da Região, dos duríssimos e socialmente criticados programas de ajuste no gasto público, das medidas impostas pelo FMI, pelo Banco Mundial e organismos multilaterais, além de sobreviver às crises de 87, 95 e 2008, a América Latina conseguiu, finalmente, o turn around.

Muitos países da Região como o Chile, o Peru, o Brasil, a Colômbia e o México hoje são considerados como exemplo em programas econômicos de sucesso e em reformas como as do sistema de pensões e a abertura comercial.

9Naturalmente, em um mundo tão interconectado como o que vivemos atualmente, as crises já não são isoladas à uma região e o que aconteça na Europa, com a possível saída da Grécia da zona do euro e suas consequências no sistema financeiro, repercute em todos os países e, diante da dúvida, os investidores fogem dos países em desenvolvimento e preferem refugiar-se nos Estados Unidos, a pesar das baixíssimas taxas de 1,6% dos Bônus do Tesouro há 10 anos e do elevado déficit que enfrenta a economia norte-americana.

No entanto, a América Latina está lidando melhor com a crise da Europa que outras regiões. Conforme a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), que lidera a mexicana Alicia Bárcenas, o crescimento médio da Região este ano será de 3,7% e, embora marque uma queda contra 4,3% de 2011, é um comportamento muito melhor em comparação com a Europa, que está em recessão e os Estados Unidos que mantém uma lenta recuperação.

Enquanto a economia do Brasil atualmente enfrenta severos problemas de produtividade devido à valorização da sua moeda e tenha freado seu crescimento econômico, o México, o Chile e a Colômbia terão um melhor desempenho, segundo o que prognosticou o CEPAL.

Nos últimos 30 anos também cresceu a liderança da América Latina a nível mundial. Um exemplo é a realização do G20 no México, porque é a primeira vez que um país latino-americano é sede dessa reunião da qual participam os Chefes de Estado dos 20 maiores países do mundo.

E por falar em América Latina, deve-se reconhecer também que não podemos falar de hegemonia pelos diferentes modelos econômicos: por um lado, os que estão aplicando reformas estruturais como o Chile, o México, o Peru e os que estão a favor de políticas mais populistas, uma maior intervenção do governo na economia como a Venezuela, Cuba e a Argentina.

Muitos países da Região como o Chile, o Peru, o Brasil, a Colômbia e o México hoje são exemplos a serem seguidos em programas econômicos de sucesso e em reformas como as do sistema de pensões e a abertura comercial

De fato entre as luzes e sombras da região Latino-americana está hoje a preocupação com as medidas protecionistas que foram aplicadas, não somente pela Venezuela, como também pelo Brasil e pela Argentina. No caso do Brasil, destacam-se as pressões ao México para renegociar o Acordo Comercial no setor automotivo, o ACE 55, devido a que a balança, que durante os primeiros cinco anos não foi favorável para o Brasil, pesou para o lado do México a partir de 2010.

No caso da Argentina, evidencia-se claramente a expropriação das ações do YPF, Yacimientos Petrolíferos Fiscales, que eram de propriedade da hispânica Repsol e a consequência é que o governo de Cristina Fernández enfrenta hoje as ameaças de sanções comerciais por parte da União Europeia.

Essas medidas protecionistas contrastam com a política de abertura do bloco do Pacífico integrado pelo México, Peru, Chile e Colômbia. Em junho foi ratificada a Aliança do Pacífico no Chile com a participação do Panamá e da Costa Rica como países observadores.

Além disso, o Chile e o Peru estão integrados no TPP, Acordo Comercial Transpacífico, que lidera os Estados Unidos e do qual participam também Brunei, Nova Zelândia, Malásia, Singapura, Vietnã e Austrália. O México está já a ponto de ser incorporado ao TPP, que será o bloco econômico mais importante do mundo e com o maior potencial de crescimento.

Assim, mesmo que existam luzes e sombras, não há dúvidas de que a América Latina tenha hoje uma presença política mais notável e solidez financeira no difícil ambiente internacional.

Maricarmen Cortés
Jornalista e colunista do jornal El Universal
Uma das colunistas de negócios mais reconhecidas no México. Escreve a coluna “Desde el Piso de Remates” (Na sala de Negociações), no jornal El Universal, é apresentadora do programa de rádio “Fórmula Financiera” (Fórmula Financeira), e do “Alebrijes, Águila o Sol” (Alebrijes, Águias ou Sol), o programa de televisão sobre negócios mais importante a nível nacional. Também colabora nas revistas Mundo Ejecutivo e Mujer Ejecutiva. Formada em Letras e Línguas Modernas e Letras-Inglês pela UNAM e em jornalismo pela Escuela Carlos Septién García. Possui diversos diplomas na área financeira e de negócios. @mcmaricarmen

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